sábado, julho 29, 2006

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«Belgais: Maria João Pires garante vai continuar, mesmo sem gostar de Portugal


Lisboa, 28 Jul (Lusa) - A pianista portuguesa Maria João Pires garantiu hoje que não irá abandonar o Centro para o Estudo das Artes em Belgais, em Castelo Branco, porque pode trabalhar no projecto "sem gostar de Portugal".

Numa carta endereçada aos jornalistas portugueses e enviada à agência Lusa, a pianista começa por declarar que "Belgais não fechou nem vai fechar".

Maria João Pires está no Brasil, onde, em declarações à Antena 2 na quinta-feira, confessou que o seu projecto musical em Belgais lhe causou enorme sofrimento, assumindo-se, sem especificar, como "vítima de uma verdadeira tortura".

Já hoje, o presidente da associação Belgais afirmou que a "tortura" evocada pela pianista decorria das funções administrativas a seu cargo e não representa um abandono do projecto.

"Belgais continua, e continua com a Maria João Pires. Não há de todo um abandono, pelo contrário, só uma alteração de funções" disse à agência Lusa o maestro César Viana.

"Em Belgais, a erva cresceu porque a equipa está de férias", explicou a artista na carta hoje divulgada, acrescentando: "Eu trabalho em Belgais regularmente e não tenciono nunca abandonar aquilo que eu própria criei".

Relembrando o trabalho de alguns dos seus colaboradores naquele centro e concertos agendados a longo prazo, a pianista adiantou que a experiência pedagógica ali realizada "continua e o Ministério da Educação tem colaborado de uma forma positiva como sempre o fez".

Reagindo a declarações de uma fonte do gabinete da ministra da Cultura, segundo as quais Belgais nunca teria justificado como gastou uma verba de 65 mil euros atribuída pelo Governo em 2003, a pianista garantiu que a tutela irá receber os justificativos em breve.

Fez uma alusão ao facto de o centro de Belgais não ter patrocinadores privados e comentou que provavelmente nunca terá, "num país como Portugal, que se comporta sem algum interesse pelas gerações futuras nem por projectos que incentivem valores morais, solidariedade, educação, respeito pelo ambiente, amizade e camaradagem".

"Ao inverso", acrescentou, Portugal preocupa-se com "sensacionalismo mentira, intriga, conflito e consumismo".

Confirmou ter comprado uma casa na Baía, onde tem "descansado de Portugal", porque ali, ao contrário de Portugal, é-lhe permitido descansar.

A pianista termina a missiva agradecendo aos jornalistas que não omitam palavras nem manipulem o que escreveu.

Nascida em 23 de Julho de 1944, em Lisboa, Maria João Pires deu o seu primeiro recital aos 5 anos mas, só em 1970, o seu talento foi reconhecido internacionalmente, quando venceu, em Bruxelas, o Concurso Internacional do Bicentenário de Beethoven.

Interpretando obras de Bach, Beethoven, Schumann, Schubert, Mozart, Brahms, Chopin viajou por todo o mundo, tornando-se uma presença regular em salas de concerto da Europa, Canadá, Japão, Israel e nos Estados Unidos.

Recebeu, em 1989, o Prémio Pessoa e, em 1999, fundou o Centro para o Estudo das Artes, em Belgais»

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